
Adalberto de Paula Christo Leite, natural de Itapetininga/SP, graduado pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas em janeiro de 1989.
Aprovado no 26º. Concurso de ingresso à Carreira do Ministério Público de Minas Gerais e no 71º Concurso para a carreira do Ministério Público do Estado de São Paulo, tendo optado em permanecer neste Estado da Federação, assumiu a titularidade da Comarca de Galileia em 1º. de março de 1991, sendo promovido por merecimento à Comarca de Frutal em novembro daquele mesmo ano. Em março de 1994, foi promovido por merecimento à Comarca de São João Del Rei, onde permanece até os dias de hoje, tendo já exercido, ao longo desses 30 anos, as atribuições junto à Promotoria Criminal, Execuções Penais, Curadorias da Infância e Adolescência e Consumidor. Atualmente à frente da 2ª. Promotoria de Justiça é responsável pela atuação junto aos feitos que tramitam perante a 1ª. e 2ª. Varas Cíveis, Vara de Família e Sucessões e Curadoria da Infância e Adolescência com atuação na área cível dos feitos que tramitam na respectiva Vara Especializada, além das atribuições relativas a Educação e Registros Públicos.
Atuou ainda como Promotor Eleitoral nas comarcas por onde passou. Exerceu, em caráter de substituição, as atribuições ministeriais nas Comarcas de Conselheiro Pena, Itapagipe, Resende Costa, Prados e Entre Rios de Minas.
Em dezembro de 1999 e abril de 2010, foi agraciado com os títulos de cidadania pelas Câmaras Municipais de São João Del Rei e Tiradentes, respectivamente.
No ano de 2011, foi agraciado pelo Governo do Estado de Minas Gerais com a outorga da medalha Presidente Juscelino Kubitschek por sua atuação nas eleições de 2008 em defesa dos ideais democráticos.
Ainda no mesmo ano, foi agraciado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais com a Medalha Desembargador Hélio Costa por sua atuação profissional em prol da justiça.
No ano de 2012, recebeu a comenda da Liberdade e Cidadania instituída em homenagem ao mártir da Inconfidência, em razão dos serviços prestados à sociedade e à defesa dos ideais de liberdade, cidadania e justiça. Em 1º de março de 2021, completou 30 anos de efetivo exercício na carreira.

“Nasci em Itapetininga, uma cidade do interior paulista, conhecida por sua vocação educacional, por ter sido a primeira cidade do interior a ter instalada uma Escola Normal de formação de professores em 1894 e cuja construção dos edifícios sedes das escolas estaduais Peixoto Gomide, Coronel Fernando Prestes e Aderbal de Paula Ferreira, de autoria do renomado engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo, autor do teatro municipal de São Paulo e de outros importantes exemplares da arquitetura paulista, traduzem, até hoje, a importância na formação educacional, o que garantiu à minha terra natal o prestigioso apelido de “Atenas do Sul”. Localizada na região sudeste do Estado, cuja origem remonta aos movimentos tropeiristas do século XVIII, traz em sua culinária, costumes e sotaque a gene de uma época em que se traziam muares do sul do pais para abastecer o intenso entreposto comercial situado na vizinha cidade de Sorocaba, que por atrair o interesse de muitos em busca dos animais de tração, serviu aos interesses da coroa portuguesa pelas vultosas quantias arrecadadas em impostos, além de permitir que a atividade mineradora, principalmente desenvolvida nas Geraes, tivesse seu apogeu com a exploração do ouro, responsável pelo desenvolvimento das principais vilas, a exemplo de São João del Rei, Mariana e Vila Rica, atual Ouro Preto.
Ao longo do século XX se notabiliza por ter sido berço de políticos de expressão nacional, cujo fato do presidente eleito e não empossado, Júlio Prestes, acaba por redundar na deflagração de um movimento revolucionário nacional após a quebra da política “café com leite”, com a alternância de paulistas e mineiros na presidência da república, e a ascensão de Getúlio Vargas, marcando nos primeiros anos um governo autoritário.
Num contexto de muita história e tradição e que se refletia em muito dentro do universo familiar, cuja disciplina e o senso de justiça talvez me tenham sido dados por meu saudoso avó materno, José Ciro de Paula, oficial da honrosa Força Pública do Estado de São Paulo e condecorado por lealdade e constância por sua atuação nas frentes de batalha da Revolução Constitucionalista de 32, tive também na forja da temperança, da religiosidade, da busca pelo saber e dos valores familiares de meus pais, Adalberto e Marly, educadores por excelência, a presença do amor e a virtude da compaixão. Assim, aos 14 anos, já me via engajado em movimentos religiosos da igreja católica no início da década de 80, trabalhando nas comunidades carentes periféricas de minha cidade, levando além da mensagem cristã, o auxílio material e a consciência social no enfrentamento da diminuição das desigualdades sociais.
Foi assim que o Direito surgiu naturalmente e logo me pus a caminho de Campinas aos 17 anos para minha graduação pela Pontifícia Universidade Católica entre os anos de 1984 e 1988.
Importante salientar que a vida também é feita de momentos de conflitos interiores e incertezas e no terceiro ano da faculdade fui, repentinamente, tomado por um desejo de abandonar minha formação. Após uma terrível semana, perturbado pelo sentimento de frustação e desânimo, vivi uma experiência espiritual marcada por uma passagem sem igual. Ao chegar em Itapetininga, após uma longa semana de reflexão, pronto para noticiar a minha decisão de deixar a faculdade, encontrei-me com minha saudosa avó materna, Vó Cida, que na sua vasta experiência de vida, conseguia ver além dos olhos e, logo se pôs a me perguntar como estava, mesmo sabendo de antemão a minha resposta. Após um longo suspiro, lhe disse que não estava bem, e sem maiores indagações, simplesmente me veio um convite para ir com ela ao culto de sua igreja numa periferia pobre de minha cidade.
Ali chegando, ao me ajoelhar, as lágrimas me vinham aos olhos e, embora embaçassem minha visão, me abriam os olhos da alma e os ouvidos do coração para uma experiência que mudaria todo o contexto de uma vida. Ao ouvir daquele pastor durante o culto o que havia se passado naquela semana com riqueza de detalhes e do que Deus queria e preparava para mim como instrumento de sua graça, fiquei estupefato pois guardava somente dentro de mim os fatos e os pensamentos que povoavam minha mente. Naquele instante, a angústia e a incerteza deram lugar a uma enorme paz e a convicção de que não poderia desistir e que tudo aquilo fazia parte de um chamamento que nortearia a minha caminhada, fosse ela qual fosse.
Bem, a vida retomou o seu curso normal, e o Ministério Público logo se fez presente em minha vida a partir de um convite de uma querida amiga de faculdade que me falou que iniciaria um estágio em uma das Promotorias de Justiça de Campinas e para lá me dirigi, tendo no mesmo dia conseguido o tão esperado estágio para minha alegria e surpresa, local onde aprendi a rascunhar minhas primeiras peças criminais com o então promotor, Dr. Francisco Biazzi.
No último ano da faculdade, foi realizado um júri simulado nas dependências do Fórum de Campinas e, como já intencionava seguir a carreira, me inscrevi unicamente para a participação como Promotor de Justiça. Para minha grata satisfação e surpresa, mais uma vez, parece que a providência divina me impulsionava para aquilo que um dia seria minha missão, tendo sido escolhido e, cuja atuação em plenário despertou os olhares daqueles que, ao passarem pelo salão do Júri, logo se perguntavam quem era o jovem promotor da Comarca, segundo os colegas de faculdade.
Tendo colado grau no início de 1989, logo me dirigi para a capital paulista onde, em companhia de um querido primo, José Roberto de Paula Barreira, hoje também promotor de justiça na minha cidade natal, estudávamos exaustivamente enquanto cursávamos as aulas do “Preparatório Damásio Evangelista de Jesus”, onde tive a honra e a oportunidade de me aprofundar na ciência jurídica com renomados doutrinadores e mestres, a exemplo de Vicente Greco, Luis Flavio Gomes, Antonio Carlos Marcato, Fernando Capez, José Eduardo Cardozo, Roque Carraza, além do próprio Damásio e de tantos outros nomes de relevo nacional.
Já em meados de 1990, dei início a maratona de concursos para a Magistratura e, em especial, ao Ministério Público junto aos Estados de São Paulo, Paraná, por ter uma origem familiar mais remota, e Minas Gerais, por sugestão de um estimado amigo da família e conterrâneo, Carlos Miguel Madero, que veio a ingressar, primeiramente, no Ministério Público deste Estado, se lançando, posteriormente, para a Magistratura onde chegou à aposentadoria e, cujo incentivo, me fez cheio de esperanças para com as Alterosas.
Assim, o 26º. concurso do Ministério Público de Minas Gerais foi marcado pela agilidade e rapidez na sua consecução, entre os meses de julho e agosto de 1990, quiçá premido pela necessidade de novos integrantes na carreira, cujos candidatos de outros estados da federação se somavam ao contingente de mineiros, todos ávidos por uma aprovação num dos concursos mais difíceis e requisitados diante dos predicados que a carreira ostentava. Superadas as três fases, já no aguardo do resultado final, busquei ansioso novamente junto à Deus uma resposta para a minha inquietude e novamente no culto evangélico daquela mesma comunidade religiosa, a mensagem se fez presente numa palavra de afirmação de que a vitória estaria prestes a chegar. Só não poderia imaginar que ela se daria logo na semana seguinte e no dia de meu aniversário de 24 anos, em 14 de setembro! Tudo parecia um sonho e a expectativa pelo início de uma carreira me dava forças diante das incertezas dos desafios que viriam pela frente face a imaturidade de quem tinha acabado de sair dos bancos acadêmicos, mas repleto de anseios e sonhos de um mundo mais justo a ser construído.
Mesmo diante da certeza em assumir a Promotoria neste Estado, a pedido de meu pai, dei seguimento ao 71º. concurso do Ministério Público do Estado de São Paulo, enquanto aguardava o chamado para posse em Minas Gerais. Naquela época, o curso de formação de promotores se resumia em apenas uma semana e os candidatos aprovados se inscreviam para as vagas que iam se abrindo e eram providas, respeitada a ordem de classificação no certame. Assim é que após tomar posse perante o saudoso e querido Procurador-Geral, Dr. Tibúrcio Nogueira Lima, em 1º. de março de 1991, me dirigia para aquela que seria minha comarca bíblica. Não poderia imaginar que meu ministério se iniciaria logo por uma localidade distante, pobre e empoeirada pela estrada de terra, mas dotada de um povo gentil e amável, cujo nome, GALILÉIA, remetia a homônima terra onde Jesus teria iniciado sua caminhada de pregação e que no meu caso, em razão de meu sobrenome, CHRISTO, mais parecia algo messiânico e premonitório! (kkk).
Graças à Deus, não fui crucificado, apesar de trabalhar até o limite da existência de processos, não faltaram histórias engraçadas e pitorescas como aquela em que, já por volta de 22 horas, ainda despachando no Fórum, logo percebi um canto que me chamou a atenção e, ao me dirigir até a janela do gabinete no segundo andar, logo vi com surpresa e enorme envaidecimento que se tratava de uma linda serenata patrocinada pelas jovens de Galiléia, ávidas por um bom partido…(será??!?!? Kkkk)
Foi também em Galiléia que tive a oportunidade de conhecer meu estimado amigo magistrado, egresso do Ministério Público, Eudas Botelho, que muito me ajudou naqueles primeiros passos na carreira com sua enorme experiência. Parecíamos “Cosme e Damião”, já que além de trabalharmos o dia todo, ainda fazíamos as refeições juntos e dividíamos o mesmo quarto de uma pensão, até a chegada de sua querida esposa Marcia e sua filhinha Julia quando estabeleceram residência autônoma na localidade.
Alguns poucos dias haviam se passado quando recebi a notícia de que havia sido aprovado no 71º. Concurso do Ministério Público do Estado de São Paulo, cuja última fase oral e de entrevista, pouco antes de assumir em Minas, foi marcada por um dos momentos mais tensos e de verdadeira provação em minha vida, isso porque, ali estava eu, no 15º. andar do Edifício João Mendes no centro da Capital, sede do Ministério Público, sentado sozinho num corredor com uma mala de cadernos e livros, que embora absolutamente desnecessários naquele momento, além de pesados, mas que me traziam certa calma e tranquilidade por tê-los ao meu lado, me socorrendo nos momentos de aflição diante da incerteza de um jovem recém-formado de estar suficiente preparado para aquele momento. Assim, próximo da hora marcada, despontava ao fundo do corredor o então Procurador-Geral do Estado de São Paulo, Dr. Antonio Araldo Ferraz Del Pozzo, seguido dos demais membros da banca, que com passos firmes, parecendo uma legião romana, desfilavam à minha frente, seguindo em direção ao salão envidraçado onde se daria o evento.
Para minha sorte, eu seria o primeiro candidato a ser examinado naquele dia num total de cinco, posto que os demais seriam examinados em dias subsequentes. Para piorar a tensão, além de inaugurar os exames orais, ainda levava de quebra um integrante a mais na banca para me fazer mais perguntas, era o próprio Procurador-Geral que limitava sua participação somente no primeiro dia. Oh sorte! Assim, ao ser chamado, consumido por uma enorme angústia e expectativa do que viria a acontecer nos momentos seguintes, pedia à Deus pelo menos para que corresse tudo bem e que saísse ileso sem nenhum percalço. E assim foi que sentado num plano mais baixo, tendo a visão dos nobres examinadores de um plano mais elevado e atrás uma parede de vidro, podia ver os raios cortando os céus de São Paulo enquanto respondia as mais diversas indagações jurídicas que me eram feitas, ao som de trovões ao fundo, durante aproximadamente, penso eu, uma hora de longa eternidade! Ufa, acabou! Apesar da incerteza de como teria sido avaliado naquele momento, ao menos, não fui repreendido e nem passei vexame com nenhum dos examinadores, o que era bem comum acontecer nessas ocasiões com outros candidatos! Cada vez mais impaciente, tinha de esperar que os demais quatro candidatos fossem também examinados para somente ao final da tarde, ser chamado para entrevista particular com os cinco integrantes da banca e mais o Procurador-Geral numa sala reservada. Só Deus saberia o que seria aquela entrevista! Dias antes, havia ido ao culto e buscado a palavra e como das outras vezes a certeza da vitória diante das provações, só não esperava que a minha entrevista seria baseada numa única questão. Durante longos 30 minutos, seis examinadores testariam minha fé, a minha resistência e meu poder de argumentação diante da seguinte pergunta: “DEUS EXISTE?”
Lembro-me com espanto e enorme emoção daquele momento que trazia a mente “Davi pelejando contra Golias” e onde o improvável aconteceria, pois para Deus nada é impossível, porque jamais pensaria que tal temática pudesse ser alvo para o ingresso na carreira do Ministério Público diante de um Estado Laico, embora marcado profundamente pela origem cristã. Mas para entender aquilo era preciso voltar os olhos para o passado e lembrar do que eu era, das minhas origens, de todo o caminho suscintamente discorrido para compreender que tudo na vida tem um propósito e que ELE estava comigo. Assim, ao final da entrevista, que transcorreu tensa em muitos momentos, diante dos argumentos em sentido contrário para que eu pudesse transpô-los, um pedido de desculpa me foi feito no encerramento, talvez diante da aparente indignação e da incompreensão de um jovem imaturo em face daquele situação frente a uma temática de cunho filosófico/religioso que até hoje é motivo de embates, mas que, defendida leoninamente diante daqueles homens da lei, fui vencedor, tendo sido aprovado no concurso e cuja descrição feita por um amigo querido, o Procurador de Justiça, Tiago Cintra Zarif, fui tema de destaque ao se referirem a minha entrevista.
Bem, voltando os olhares novamente para Galiléia, após saber do resultado do concurso de São Paulo, o juiz, desconsolado, já pensava, “perdi meu promotor”, tendo como certo o meu retorno para o Estado natal diante da precariedade de uma comarca e de uma promotoria que, naquela época, sequer tinha cadeira e mesa, o que dirá de máquina de escrever, servidor e tudo o mais que compõe a estrutura do Ministério Público dos dias atuais, valendo lembrar que até mesmo o papel ofício e os formulários de denúncia, há muito extintos, teriam de ser buscados na capital já que não eram remetidos as comarcas do interior.
Assim, sem saber o que fazer diante daquele impasse, me dirigi até a Procuradoria para buscar uma orientação e, ao me deparar com outro saudoso amigo, hoje Desembargador, Renato Jacob, que à época ocupava a função de chefe de gabinete, espantado com minha presença logo após a posse, imaginando que algo de errado já havia ocorrido, me perguntou como as coisas estavam. Foi quando lhe respondi que estava com um dilema, havia passado no MP de São Paulo. Sendo paulista como eu, logo veio a pergunta. –“E para qual comarca você foi designado?” Eu respondi. –“Fernandópolis”. Diante do enorme espanto, ele retrucou: “Putz, minha cidade!” Seguiram-se os risos e logo ele me falou, vamos conversar com o Dr. Tibúrcio. Nessa época, a Procuradoria refletia a pequenez estrutural de uma instituição, locada em uns poucos andares de um edifício na rua Guajajaras. Ao adentrar no gabinete do Procurador-Geral, o Renato explicou rapidamente a situação ao Dr. Tibúrcio que com seu gesto de enorme consideração, após me convidar para me sentar no sofá, olhando-me nos olhos, me disse que se eu voltasse para São Paulo, ele e a instituição saberiam entender, afinal, eu sendo um paulista era mais do que compreensível tal atitude. Mas logo em seguida, com ar paternal como se voltando para um filho, falou que caso eu ficasse, seria motivo de enorme orgulho e alegria para o Ministério Público de Minas Gerais. Naquele momento, que me recordo em detalhes até hoje, tomado de muita emoção, eu me decidi por ficar, retornando para minha comarca ainda mais convicto do que haveria de fazer, para espanto do juiz que me chamando de “louco”, já imaginava nunca mais me ver pela frente e para o desgosto do Ministério Público de São Paulo que naquele momento perdia um recém-aprovado paulista para Minas Gerais.
Bem, naquela época, ainda inspirados pelos novos ventos que sopravam diante do Estatuto da Criança e do Adolescente, eu e o Eudas iniciamos um trabalho que se notabilizou naquela comarca com a criação de uma Fundação denominada “Pró-Menor” e que, além de muitas funções, tinha como premissa tirar aquelas crianças das ruas, dando-lhes capacitação profissional numa recém-criada fábrica de vassouras, o que lhes garantia uma renda que contribuía em muito na sobrevivência daquelas famílias empobrecidas diante da falta de emprego formal, a justificar uma constante fila de mães à procura de uma vaga para seus filhos. A fundação ainda se prestava ao reforço escolar, além da formação cívica e religiosa daqueles jovens a partir de um trabalho conjunto envolvendo toda a comunidade com a criação dos Conselhos Municipal e Tutelar dos Direitos da Criança e Adolescente. Era o início de uma carreira marcada pela aspiração de um mundo mais justo que se materializava naquele trabalho simples, mas com a insígnia da esperança através de uma instituição que ao longo dos anos iria se agigantar.
Alguns meses já tinham se passado e logo veio o pedido para que auxiliássemos na vizinha comarca de Conselheiro Pena numa pauta de 13 júris, oportunidade em que tive o prazer de estreitar a convivência e a amizade com um querido e estimado amigo promotor, Emanuel Carapunarla e sua linda e amável família, provenientes do Estado do Paraná, os quais me acolheram. Acontece que, diante da precariedade da estrada de terra que ligava os Municípios, agravado pelo período das chuvas, era preciso que um motorista da Prefeitura de Conselho Pena viesse nos buscar. Assim, numa daquelas manhãs, após entrar no banco de trás daquele Wolkswagen/Gol de duas portas, todo enlameado, seguido do juiz que se sentou na frente, ao fechar das portas e prestes a sair, ouvimos uma voz mansa ao longe: “Oh moço, ocêis tão indo prá Conselheiro? Será que ocêis poderia me dar uma carona?” Bem, naquele instante, compadecidos com aquele pedido, diante da dificuldade de acesso entre os municípios, logo permitimos a entrada do sujeito que sem demora se assentou ao meu lado e, muito curioso, diante de dois engravatados, logo foi perguntando: -“Ocêis, por um acaso, são o que mesmo?” Logo, o Eudas, tomando a palavra, e, num ar imponente, logo disse em tom afirmativo: “Eu sou o Juiz e este é o Promotor, Dr. Adalberto.” Em seguida se fez um silêncio e, na sequência, a pergunta que não queria se calar diante do medo do que poderia ser uma possível resposta -“E o senhor?”. Nesse momento, o sujeito numa entoada baixa e desconsertada balbuciou: “Eu sou o réu…” Naquele momento tragicômico, a primeira reação foi procurar uma eventual saída daquele veículo num caso de precisão, mas quando percebi que seria impossível transpor o banco dianteiro, logo encostei minhas costas na lateral envidraçada e começamos a rir, talvez para não chorar! kkkk. Não fosse a peça que o destino nos pregava, quem sabe poderíamos ser até amigos?!?!? Kkk. Mas ao chegarmos defronte ao Fórum, as pessoas espantadas se riam diante daquela cena que, embora inusitada, fazia do improvável a realidade, onde jocosamente Deus brincava e mostrava que para Ele todos somos iguais. Logo, na sequência, fui apresentado ao nobre defensor, um advogado famoso da região por sua eloquência. Assim, já iniciado o júri, a medida que o ilustre causídico lançava seus argumentos, um rastro se fazia pelo chão. Era a garrafa de cachaça que havia virado no seu bolso, desperdiçando a última gota de sua inspiração, provocando risos dos jurados e dos demais que se faziam presentes na sessão.
A distância de minha cidade natal era tão grande que certa feita, voltando após o gozo das férias de julho, vivi uma verdadeira epopéia, por assim dizer. Meu pai com seu carro me levou até a rodoviária de Itapetininga. Após tomar o ônibus, cheguei na rodoviária da capital paulista. Tomei um metro e fui para outra estação. Tomei outro ônibus e cheguei à Belo Horizonte. Peguei um taxi e fui até o aeroporto da Pampulha. Peguei um voo até Governador Valadares. Peguei um taxi, fui até a estação do trem. Peguei o trem até a estação de Galiléia. Peguei uma balsa, atravessei o rio Doce, andei à pé por uns 3 kms com as malas na mão e, finalmente, cheguei em casa após 24 horas de viagem. Bobagem!
Já em novembro daquele mesmo ano de 1991, após parecer ter vivido dez anos num só diante de tantas experiências, cujo tempo não me permitiria relatar neste exíguo momento, fui promovido para a longínqua comarca de Frutal, no Triangulo Mineiro. Nesse momento, percebi que dentro de Minas existiam várias Geraes, que se distinguiam em costumes, credos, tradições e riquezas, mas que tinham em comum a religiosidade, o jeito simples e a mansidão com a qual precisei apreender, já que paulista é tudo igual, agitado, nervoso, impaciente e por ai vai….,Vê só o meu dileto amigo Zé Carlos Fernandes com quem tive o privilégio de compartilhar o início da carreira, eu em Frutal e ele na vizinha Itapagipe! ( kkk)
Bem, esses foram só os 8 primeiros meses, a sequência dessa nossa prosa vai ter de ficar para outro momento onde contarei uma operação envolvendo a máfia italiana, turca e coreana juntas atuando pela primeira vez no Brasil num tráfico internacional de drogas e como um jovem promotor desajuizado se meteu nessa, atravessando a fronteira do Estado de São Paulo para procurar ajuda com a Polícia Federal de Rio Preto, além de outras aventuras.”